11 MÚSICAS BRASILEIRAS BASEADAS EM TRÁGICAS HISTÓRIAS VERÍDICAS

Composições sobre desilusão amorosa, desapego, morte e muito mais. Da MPB ao forró, conheça casos reais e tristes que foram razões para letras de músicas brasileiras.

Você já parou para pensar no processo de criação de uma música? Muitos compositores colocam no papel versos baseados em histórias verdadeiras e, muitas vezes, elas não são sobre momentos fáceis.

Bruce Roberts, grande compositor e músico norte-americano, responsável por composições para Whitney Houston e Donna Summer, disse uma vez que a arte mais importante numa música é a composição. 

O compositor precisa entender qual mensagem quer passar para o público, podendo buscar inspiração, inclusive, em situações que já vivenciou. Hoje em dia, sobretudo no popular sertanejo universitário, é fácil encontrar músicas que falem sobre alguma experiência real do cantor. Como 50 Reais, de Naiara Azevedo, baseada na traição que sofreu de um ex-namorado.

Do rock nacional ao forró, muitas composições falam sobre histórias verídicas e trágicas. E, para exaltar o cenário musical brasileiro, o NÃO ÓBVIO selecionou cinco músicas inspiradas em fatos assim, surpreendentes, para você conhecer, dar play e adicionar na sua playlist. Confira:

1. GOSTAVA TANTO DE VOCÊ | TIM MAIA (1973)


Lançado no álbum Tim Maia, quarto do cantor, lançado em julho de 1973. Dentre as músicas lançadas no disco, estão o sucesso Réu Confesso e Gostava Tanto de Você.

“Eu corro e fujo destas sombras
Em sonhos vejo esse passado
E na parede do meu quarto
Ainda esta o seu retrato
Não quero ver para não lembrar
Pensei até em me mudar”

A música é uma composição de Edson Trindade e Tim Maia e, ao contrário do que parece, não é sobre uma história de amor. Na internet, duas versões sobre a história que inspirou a música circulam.

A primeira diz que Gostava Tanto de Você é uma homenagem de Tim Maia a filha de 15 anos, falecida num acidente de carro. Dizem que a música foi composta na década de 1950, mesmo período em que a filha falecera.

No entanto, outros afirmam que a canção era homenagem de Edson baseada na perda da filha de dez anos.

2. COMO EU QUERO – KID ABELHA (1984)


Outra falsa canção de amor foi composta pelo grupo Kid Abelha para o álbum de estreia do grupo, lançado em 1984. Escrita por Paula Toller e Leoni, a música é um alerta ao ex-baterista da banda, Carlos Beni Borja.

Ao verem que o amigo estava sendo manipulado pela ex-namorada, ambos juntaram-se para escrever uma música para Beni. Então, Como Eu Quero fala sobre uma namorada abusiva, que deseja remodelar o namorado a partir de seus próprios ideais.

“Longe do meu domínio
‘Cê vai de mal a pior
Vem que eu te ensino
Como ser bem melhor”

Seu objetivo é mudar o parceiro por completo, desde sua personalidade até profissão. A canção lista uma série de mudanças que exige ao namorado.

No refrão fica claro a mensagem: Eu quero você como eu quero, ou seja, ela quer o cara da forma como ela exige.

3. A VIA LÁCTEA | LEGIÃO URBANA (1996)


Lançada no penúltimo álbum do grupo Legião Urbana, A Via Láctea é considerada uma das músicas mais tristes de toda discografia da banda. 

Composta por Renato Russo, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos, os fãs dizem que a música retrata a depressão e pessimismo que consumiam Renato em seus últimos momentos de vida, vencido pela AIDS.

“Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz
Mas não me diga isso”

Renato mostra-se conformado, inconsolável, vivendo com sua melancolia à espera de um momento de paz. Abatido, a solidão e tristeza o consomem pouco a pouco. Inclusive, na canção ele relata como a febre não dá trela e como não consegue mais enxergar beleza na vida.

A Via Láctea foi lançada um mês antes de Renato falecer em outubro de 1996. Na música ele ele agradece quem pensa nele. Mas, já antecipava que a morte era a única solução para o alívio de sua dor.

Seguindo o significado da expressão, fãs especulam que o nome da música, Via Láctea, faz referência ao momento de transcendência da alma, do corpo físico a um mundo de paz. O que Renato esperava para, finalmente, se livrar da dor.

4. CONVERSA DE BOTAS BATIDAS | LOS HERMANOS (2003)


A banda Los Hermanos dominou o Brasil com o hit Ana Júlia. Lançada em 1999, a música continua famosa até hoje. Além dela, outro sucesso emplacado anos mais tarde foi Conversa de Botas Batidas, do álbum Ventura, de 2003.

Composta por Marcelo Camelo, a música é baseada no desabamento do hotel Linda do Rosário, em setembro de 2002. A maioria das pessoas conseguiram escapar. Durante a correria, o porteiro se lembrou de um casal de hóspedes que não havia aparecido e resolveu interfonar para salvá-los. 

Como ninguém atendeu, ele fugiu e o prédio veio à ruína. Dias depois, dois corpos foram encontrados nos escombros, nus e abraçados sob uma cama.

“Diz quem é maior
Que o amor
Me abraça forte agora
Que é chegada a nossa hora
Vem vamos além
Vão dizer
Que a vida é passageira
Sem notar que a nossa estrela
Vai cair”

A identidade de ambos nunca foi revelada, mas sabe-se que eram uma bancária, de 47 anos e um professor de 71. Ao que tudo indica, o casal vivia um romance secreto. Camelo explica que Conversa de Botas Batidas é o último diálogo “de um casal cansado de fugir e se esconder, e a alternativa escolhida entre eles foi a de se amar até morrer para viverem juntos no céu”.

5. DEBAIXO DOS CARACÓIS DOS SEUS CABELOS | ROBERTO CARLOS (1971)


Uma música que passou batida durante a época da ditadura no Brasil foi Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, composta por Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Ao contrário do que acham, a música não é sobre um caso romântico.

“Você anda pela tarde
E o seu olhar tristonho
Deixa sangrar no peito
Uma saudade, um sonho
Um dia vou ver você
Chegando num sorriso
Pisando a areia branca
Que é seu paraíso”

Na verdade, a música foi feita para homenagear Caetano Veloso, exilado durante a ditadura. Em 1968, Caetano e Gilberto Gil foram presos e mandados para o exterior, devido às suas músicas explicitamente contra a política do país.

Exilados entre 1969 e 1972, durante esse período Roberto fez uma visita ao amigo e assim, decidiu homenageá-lo. Tanto é que, o título da música é inspirada nos cabelos de Caetano Veloso na época.

6. FOLGADO | MARÍLIA MENDONÇA (2016)


Marília Mendonça estourou no Brasil com o hit Infiel, inspirado na traição que a tia sofreu. Casada por anos, além do chifre, o marido teve um filho fora do casamento. Mas, nem isso foi capaz de abrir os olhos dela, que manteve o casamento.

Muitas músicas da rainha da sofrência também são baseadas em suas próprias histórias. Segundo a cantora, suas experiências amorosas frustradas começaram desde sua pré-adolescência, aos 12 anos. 

Em 2018, Marília explicou pelo Twitter o significado por trás de quatro hits. Entre elas, a canção de 2016, Folgado.

“Eu nunca tive lei
E nem horário pra sair nem pra voltar
Se lembra que eu mandei você acostumar
Tô te mandando embora
Melhor sair agora
Não vem me controlar”

Segundo ela, esse foi o pior namorado que já teve na vida. “Quis mandar no que eu vestia, na minha relação com a minha família, no que eu comia, mesmo sendo que eu que pagava a conta. Mandei vazar e fiz essa homenagem para ele”.

Na música  Marília reforça a sua independência, dizendo que não é obrigada a viver do jeito que estava, com um homem que se achava dominador e folgado.

7. DIÁRIO DE UM DETENTO | RACIONAIS MC’S (1997)


Lançada em 1997, Diário de um detento é uma das músicas mais fortes e marcantes do cenário brasileiro. A letra da música foi inspirada e escrita por Mano Brown em parceria com Jocenir Prado, ex-detento do presídio Carandiru.

É impossível não reconhecer o primeiro verso da música: “Aqui estou, mais um dia sob o olhar sanguinário do vigia”.

“Ratatatá, mais um metrô vai passar
Com gente de bem, apressada, católica
Lendo jornal, satisfeita, hipócrita
Com raiva por dentro, a caminho do Centro
Olhando pra cá, curiosos, é lógico
Não, não é não, não é o zoológico é
Minha vida não tem tanto valor
Quanto seu celular, seu computador
Hoje, ‘tá difícil, não saiu o sol
Hoje não tem visita, não tem futebol
Alguns companheiros têm a mente mais fraca
Não suportam o tédio, arruma quiaca”

Jocenir é um dos ex-presos que sobreviveu à chacina do Carandiru, quando, em 2 de outubro de 1992, 111 detentos foram assassinados pela Polícia Militar para conter uma rebelião. Ele entregou a Brown alguns trechos que havia escrito dentro do próprio presídio. 

A letra da música fala sobre o cotidiano no cárcere, trazendo inúmeras críticas à polícia e violência na cadeia, a falta de condições básicas e o descaso do governo da época. Além disso, Diário de um detento fala sobre suicídio e pobreza.

O videoclipe foi gravado dentro do presídio, contando com a participação de presos, o que traz maior veracidade e impacto à música. Anos mais tarde, Jocenir lançou um livro com o mesmo nome.

8. IDEOLOGIA | CAZUZA (1988)


Cazuza é considerado um dos maiores compositores brasileiros. Em 1987, após finalizar a turnê do álbum Só se for a dois, Cazuza descobriu que tinha o vírus da HIV. Então, ele foi para Boston com os pais para dar início a um tratamento contra a doença.

Quando retornou ao Brasil, em 1988 ele iniciou a produção e gravação de seu novo disco Ideologia, lançado naquele mesmo ano. Na música de mesmo nome, Cazuza declarou publicamente que tinha AIDS.

“O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs
Não tem nenhum rock ‘n’ roll
Eu vou pagar
A conta do analista
Pra nunca mais
Ter que saber
Quem eu sou”

O ato de admitir a doença para o Brasil e mundo, tornou Cazuza um ícone corajoso e libertário, o que fez com que muitas pessoas se conscientizassem sobre o vírus HIV.

Foi nessa época que o cantor decidiu compor músicas com críticas sociais, que batessem de frente contra a situação social e política do país pós-ditadura. Cazuza mostra-se impotente, o inconformismo transformando-se em apatia. 

Mesmo doente, ele rodou o Brasil promovendo o álbum e Ideologia foi a música mais tocada nas rádios na época. Infelizmente, dois anos mais tarde, em 1990, Cazuza faleceu em sua casa.

9. A SAGA DE UM VAQUEIRO | RITA DE CÁSSIA (2009)


A Saga de um Vaqueiro é uma das músicas mais significativas do nordeste, considerada como um dos maiores hinos do forró. A música foi composta por Rita de Cássia em 2009 e regravada pelas bandas Catuaba com Amendoim e Mastruz com Leite.

“Então começamos um namoro apaixonado
Ela vivia na garupa do meu cavalo
Meus planos já estavam traçados em meu coração
De tê-la como esposa ao pedir a sua mão”

Na internet dizem que o forró é inspirado numa história verídica sobre um casal sertanejo, o Romeu e a Julieta nordestinos. Um vaqueiro se apaixonou por uma linda mulher durante uma vaquejada. O amor era tão intenso que eles pretendiam se casar, mas foram impedidos pelo pai da moça, que queria que ela se casasse com um fazendeiro, não um vaqueiro.

Dezessete anos depois, em outra vaquejada, o homem finalmente encontra um competidor à sua altura. Para sua surpresa, aquele na verdade é seu filho.

A Saga do Vaqueiro é uma das músicas mais marcantes da carreira de Rita. Um sucesso romântico que enfatiza o ser e o não ter, como a compositora explica.

10. NÃO | TIM BERNARDES (2017)


Ex-integrante do grupo O Terno, Tim Bernardes começou carreira solo com seu álbum Recomeçar, em 2017. Foi nele em que o cantor pôde extravasar seus sentimentos mais dolorosos, ao abordar decepções amorosas e políticas.

A música Não é uma das mais antigas de sua carreira. Ele a escreveu em 2010, inspirado numa primeira experiência amorosa forte e dolorosa.

Segundo o cantor, ele a escreveu aos 18 anos, com o objetivo de torná-la pesada emocionalmente: uma canção mais para si do que para o público. Não é difícil encontrar comentários de fãs desabafando, como se passassem pela mesma situação.

Tim lançou a música aos 26 anos – mais maduro e crescido emocionalmente.

“Não fala isso por favor
Eu já passei por tanta coisa
Eu não vou mais ser seu amigo
Eu quero até mas não consigo
Eu também vou sentir saudades
Eu também vou chorar sozinho”

11. ESVAZIOU | CLARICE FALCÃO (2019)


Clarice é conhecida por seu humor irônico e ácido desde o canal Porta dos Fundos. Mas, em seu terceiro álbum Tem Conserto, em 2019.

Segundo ela, esse é o álbum mais forte de sua carreira, em que expõe suas vulnerabilidades a partir de suas experiências com depressão e ansiedade.

“É que às vezes quando alguém vai
Parece que ninguém ficou
Que ninguém ficou
É que às vezes quando alguém vai
Parece que esvaziou
Que esvaziou”

Nele, ela teve coragem de se expor para além da comédia. Para ela, Tem Conserto a define como artista e compositora, uma vez que as músicas mostram a sua essência, a partir da sua visão de mundo.

A música Esvaziou é uma homenagem a um amigo próximo falecido, repleta de carga emocional.

Autor: Carolina Rodrigues • @carolinahelfstein

Jornalista apaixonada por k-pop e aficionada pela cultura pop em geral.

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