5 FILMES NÃO ÓBVIOS E INSPIRADOS EM FATOS HISTÓRICOS

Ditadura no Brasil, genocídio na Ruanda, primeiros casos notificados de HIV e mais. A arte apurando a realidade: conheça cinco filmes emocionantes que tem como pano de fundo eventos históricos reais e intensos.

Cinebiografias conquistam o público por focarem na trajetória de vida real de uma única pessoa, apresentando detalhes marcantes daquela caminhada (que geralmente inspira vidas em ângulos profissionais).

Outras tramas baseadas em casos reais também dominam o coração do público por apresentarem situações que aconteceram com diversas pessoas envolvidas. É o caso, por exemplo, do longa O Impossível (2012), que apresenta uma família que sobreviveu a um tsunami (e um pouco dos que estavam ao redor deles).

Mas produções baseadas em acontecimentos verídicos podem ir para além desses dois segmentos. Muitos acabam, por exemplo, evidenciando épocas passadas e gerando reflexões sobre aspectos do momento atual.

Assim, o filme foca em um ou mais personagens, mas o principal dele acaba sendo a discussão de uma data ou fase que marcou a história. Desta forma, é possível esquivar-se de um futuro trágico ou até mesmo incentivar a continuidade de movimentos importantes.

Seja, então, para quem quer aprender mais sobre acontecimentos históricos ou apenas para quem quer conferir boas obras impactantes, o NÃO ÓBVIO escolheu cinco filmes nada clichês sobre acontecimentos que marcaram a história do mundo. Confira:

1. ABRIL SANGRENTO


Abril de 1994 data um genocídio pouco conhecido no mundo. O triste massacre aconteceu em Ruanda e foi abordado anos depois, no longa Abril Sangrento, do diretor Raoul Peck. 

O filme conta a história de dois irmãos durante o período. Pertencentes a etnia hutu, um militar e um locutor tentam sobreviver e salvar suas próprias famílias, desafiando ordens de superiores do exército. Os personagens são fictícios, mas o genocídio de fato aconteceu.

A guerra envolveu duas etnias africanas: hutus e tutsis. A tensão entre os povos surgiu a partir da ação imperialista da Bélgica. 

Por mais que as etnias não tivessem diferenças discrepantes entre si, os belgas estabeleceram que os tutsis eram moral e intelectualmente maiores em relação aos hutus, por serem mais esguios e terem o tom de pele mais claro.

A tensão entre os grupos explodiu em 6 de abril de 1994, quando o avião do então presidente da Ruanda, Juvénal Habyarimana caiu. A ação foi rapidamente atribuída aos tutsis. Logo no dia 7 de abril, extremistas hutus foram às ruas, perseguir e matar todos que fossem de grupos de oposição ou tutsis.

Para incentivar o genocídio, hutus citavam, em transmissões de rádio, os nomes de tutsis que deveriam ser mortos e os chamavam de baratas.

Em 100 dias, mais de 800 mil ruandeses tutsis foram assassinados. Foi só em julho que o conflito teve um fim, quando a Frente Patriótica Ruandesa apoiada pelo exército de Uganda tomou controle da situação.

Em Abril Sangrento, o cineasta mostra as dimensões do conflito de forma angustiante e muito emocionante. Raoul Peck ganhou fama anos mais tarde com o filme Eu Não Sou Seu Negro (2017), indicado ao Oscar de Melhor Documentário.

☌ Onde Assistir: Amazon Prime
☌ Gênero: Drama
☌ Duração: 2h20
☌ Lançamento: 2005
☌ Direção: Raoul Peck
☌ Elenco: Idris Elba, Carole Karemera, Oris Erhuero, Cleophas Kabasita, Debra Winger, Noah Emmerich, Abby Mukiibi Nkaaga
☌ Nacionalidade: Ruanda, França, Estados Unidos

2. O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS


A vida do mineiro Mauro, de 12 anos, muda de uma hora para outra quando seus pais saem de férias de forma inesperada. O garoto hospeda-se forçosamente no apartamento de Shlomo, um velho judeu, cheio de manias e um tanto ranzinza.

Contudo, “sair de férias” foi a melhor metáfora que os pais de Mauro encontraram para, na verdade, fugir da perseguição da ditadura brasileira durante o período de maior repressão, na década de 1970.

Bem como em The Blue Kite, o diretor de O ano em que meus pais saíram de férias, Cao Hamburger, também acrescentou características da vida pessoal no longa, como o amor por futebol. É sobre a Copa do Mundo que Mauro apoia os sentimentos de tristeza e saudade dos pais. 

A época de 1970 é marcada pelo auge da repressão, tortura e controle midiático no Brasil. Tanto é que no poder, o militar Emílio Médici disponibilizou os melhores preparadores físicos para cuidar da seleção, para que os jogadores tivessem desempenho satisfatório e desviando, assim, a atenção da população sobre escândalos de tortura.

O ano em que meus pais saíram de férias é cativante, ao passo em que faz o espectador torcer por Mauro, ao mesmo tempo em que escancara o caos político da época da ditadura militar brasileira.

☌ Onde Assistir: YouTube
☌ Gênero: Drama
☌ Duração: 1h50
☌ Lançamento: 2006
☌ Direção: Cao Hamburger
☌ Elenco: Michel Joelsas, Germano Haiut, Simone Spoladore, Daniela Piepszy, Caio Blat, Eduardo Moreira, Liliana Castro, Rodrigo dos Santos
☌ Nacionalidade: Brasil

3. OS INTOCÁVEIS


Dos anos 1920 a 1933 os Estados Unidos viveu o período da Lei Seca, conhecida como Prohibition, em que o transporte e consumo de bebidas alcoólicas eram proibidos. Porém, o gangster Alphonse Capone dominava o mercado clandestino de bebidas, ganhando milhões. 

É neste cenário em que se desenvolve a batalha entre policiais contra mafiosos, história verídica que deu origem ao livro, à peça teatral, à série televisiva e posteriormente, ao filme, todos com mesmo nome: Os Intocáveis.

Para acabar com o reinado criado por Al Capone, o agente federal Eliot Ness recruta um time de homens incorruptíveis formado pelo policial Jim Malone, o integrante da Academia de Polícia, George Stone e o contador Oscar Wallace.

Naquela época, o então presidente norte-americano Herbert Hoover endureceu as leis contra o crime organizado, criando um esquadrão de repressão direita ao mafioso Capone. Das cinquenta pessoas escaladas, apenas nove membros permaneceram até o fim da operação. 

Muitas vezes, policiais do esquadrão de Eliot Ness eram subornados pelo pessoal de Al Capone. Daí surgiu o nome “Os Intocáveis”, já que aqueles nunca se corromperam pelas propostas dos mafiosos. O próprio Eliot foi vítima de três tentativas de assassinato, mas permaneceu firme até o final.

Os Intocáveis é tão intenso que até hoje é sucesso entre o público e a crítica especializada, sendo considerado um dos melhores filmes sobre a época da Lei Seca nos Estados Unidos.

O sucesso foi tanto que o longa levou o Oscar de 1988, de melhor ator coadjuvante para Sean Connery e o Prêmio BAFTA de Cinema, no mesmo ano.

O diferencial é que Os Intocáveis foca na ação dos policiais e não no lado dos gangsteres, como outros clássicos.

☌ Onde Assistir: YouTube
☌ Gênero: Policial
☌ Duração: 1h59
☌ Lançamento: 1987
☌ Direção: Brian De Palma
☌ Elenco: Robert De Niro, Kevin Costner, Sean Connery, Charles Martin Smith
☌ Nacionalidade: Estados Unidos

4. THE NORMAL HEART


Quando o namorado do escritor Ned Weeks contrai o vírus da AIDS, ele se torna um grande ativista da causa, lutando para mostrar ao mundo que a enfermidade não deve ser vista como um “câncer gay”. 

A trama de The Normal Heart tem como plano de fundo o surgimento da AIDS em Nova York e o preconceito contra a comunidade LGBTQ+. Em 1981 foram identificados os primeiros casos de aids pacientes homens e homossexuais. Durante muito tempo, por não saberem como era transmitida, muito menos a cura, a doença passou a ser chamada de “câncer gay”.

Entre 1960 e 1970, sobretudo no ocidente, o mundo passou por um período de revolução sexual, em que a chegada da pílula anticoncepcional impulsionou movimentos de contracultura, ao mesmo tempo em que relações monogâmicas e heterossexuais deixaram de ser as únicas aceitáveis.

Contudo, com a disseminação da aids, a partir da década de 1980 os direitos LGBTQ+ regrediram, mesmo após a libertação sexual. Em 1985, todas as regiões do mundo registraram pelo menos um caso de HIV. De 1981 a 2000, quase 12 milhões de pessoas haviam morrido de aids.

O interessante de The Normal Heart é que o diretor Ryan Murphy não vitimiza a luta LGBTQ+. Pelo contrário, Murphy mostra o que aquele momento significou para a história da comunidade. O longa é forte ao mesmo tempo em que desenrola a história de forma delicada.

Por conseguinte, em 2014 o filme recebeu o Emmy Awards de Melhor Filme feito para Televisão, além de outros oito prêmios, como o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante para Matthew Bomer e Critics’ Choice Awards de Melhor Filme.

Ned Weeks, um dos personagens principais da trama, na verdade, é o alterego de Larry Kramer, autor da peça de teatro original e quem assina o roteiro do filme. Ele é um dos criadores do Gay Men’s Health Crisis (GMHC).

☌ Onde Assistir: HBO
☌ Gênero: Drama
☌ Duração: 2h12
☌ Lançamento: 2014
☌ Direção: Ryan Murphy
☌ Elenco: Mark Ruffalo, Julia Roberts, Matt Bomer, Jim Parsons, Taylor Kitsch, Jonathan Groff, Joe Mantello, Finn Wittrock, Corey Stoll
☌ Nacionalidade: Estados Unidos

5. NO


No também já foi indicado na lista do NÃO ÓBVIO de 5 filmes ou séries sobre os bastidores do universo publicitário.

O fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1988, estava nas mãos dos publicitários chilenos. É o que Pablo Larraín retrata em No, lançado em 2012. 

O regime militar de Pinochet é considerado um dos mais violentos da América Latina. O Estádio Nacional de Santiago, por exemplo, foi palco de inúmeras torturas e assassinatos. Estima-se que 40 mil pessoas contrárias à ditadura tenham passado ali em apenas dois meses. 

Em 1988 um plebiscito nacional foi lançado por pressão internacional, no qual as pessoas deveriam decidir entre o SIM (a permanência de Pinochet no governo por mais oito ano) ou NÃO (sua saída). Um mês antes da votação, peças publicitárias a favor e contrárias eram transmitidas antes do principal telejornal do Chile. 

Em No, o espectador acompanha de perto esses momentos decisivos, cheios de tensão e torce junto com os publicitários envolvidos. A oposição, formada por 17 grupos de esquerda, juntaram-se no “Concertación de Partidos por la Democracia” contra partidos conservadores, apoiadores do SIM. 

No filme, sob liderança da campanha NÃO estava o personagem René Saavedra, exilado político de volta ao Chile. Com poucos recursos e sob vigilância constante, o publicitário cria um plano ousado. Aquela era a primeira brecha em anos de censura.

No fecha a trilogia sobre a ditadura chilena, produzida pelo diretor Pablo Larraín. Para entender melhor todo o contexto, você pode assistir seus dois filmes anteriores: Post Morten, sobre o golpe de 1973 e Tony Manero, que retrata o período de maior repressão no Chile, em 1979.

☌ Onde Assistir: Google Play
☌ Gênero: Drama, Ficção Histórica
☌ Duração: 1h58
☌ Lançamento: 2012
☌ Direção: Pablo Larraín
☌ Elenco: Gael García Bernal, Alfredo Castro, Luis Gnecco, Néstor Cantillana
☌ Nacionalidade: Chile, Estados Unidos, França

Autor: Carolina Rodrigues • @carolinahelfstein

Jornalista apaixonada por k-pop e aficionada pela cultura pop em geral.

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